Exposição "100 anos de nada"
20-10-2011 23:24A Linha do Sabôr construída no início do século passado na região transmontana próxima do Douro Internacional, trouxe consigo prosperidade, economia, investimento e um meio único de mobilidade de bens e pessoas, retirando inúmeras povoações do isolamento e do esquecimento a que estavam votadas e já resignadas.
Partindo da estação do Pocinho com ligação ao Porto e a Salamanca através da Linha do Douro, o eixo ferroviário do Sabôr foi construído com o intuito de fornecer uma ligação ferroviária ao Planalto de Miranda e aos importantes recursos naturais naquela região, especialmente as jazidas de ferro localizadas no Carvalhal, município de Torre de Moncorvo. Projectada em via larga, acabou por ser construída em bitola estreita até à localidade mirandesa de Duas Igrejas, término provisório da Linha do Sabôr que passou a definitivo devido ao desvio da verba financeira para a construção do troço Duas Igrejas-Miranda do Douro, para o Ramal de Tomar.
A Linha do Sabôr tinha um total de 105 km, atravessava cenários paisagísticos de singular beleza e únicos no nosso país. Muitas das suas estações estão decoradas com elegantes painéis azulejares como é o caso de Sendim e Duas Igrejas. Tinha uma particularidade exclusiva na rede ferroviária portuguesa; nos primeiros 12 km entre o Pocinho e Moncorvo obrigava a vencer um desnível de 280m. Não é por acaso que muitos dos comboios que iam bem carregados para vencer as fortes rampas, em vez de andar para frente...andavam para trás! Certo é que muitas memórias, muitas canções, muitos namoricos, muitas histórias foram escritas e contadas a bordo dos comboios da Linha do Sabôr.
Hoje a Linha do Sabôr não é mais do que uma linha entre muitas outras no nosso país, vítima do desinvestimento, da incúria e das teias de compadrio entre poder central e local. A região de Trás-os-Montes é um testemunho disso. O abandono é uma constante e não se vislumbra no horizonte uma esperança. A própria ciclovia do Sabôr é um remendo de um erro cometido à 25 anos. Os habitantes das freguesias servidas pela chamada “pista das bicicletas” até simpatizam com ela, mas o rosto dos mesmos não esconde a vontade de ter de volta o ranger e o silvar do comboio. Seria um milagre o regresso do precioso comboio!
Fez precisamente a 17 de Setembro de 2011, cem anos que é inaugurado o primeiro troço da Linha do Sabôr entre o Pocinho e Carviçais. A AVAFER (Associação Valonguense dos Amigos da Ferrovia) em conjunto com o restaurante O Artur, não quiseram esquecer esta data e decidiram organizar uma exposição fotográfica dedicada aos ferroviários que árduamente laboraram nesta via férrea, bem como a todos aqueles que viveram e testemunharam os tempos saudosos do comboio e dar a conhecer a quem não conheceu, como tinha vida o quo-tidiano destas regiões associadas ao comboio.
A exposição é composta por 30 imagens alusivas ao comboio a circular entre Pocinho e Carviçais. São registos fotográficos fabulosos feitos por britânicos que se deslocaram propositadamente a Portugal para fotografar as nossas vias férreas de bitola estreita em Trás-os-Montes, incluindo o Sabôr.
Infelizmente o comboio já pereceu e como tal “100 anos de nada”.
Cartaz da exposição: https://www.gwrarchive.org/site/sitel2pg/Portugal/ng/sabor/Cartaz_Sabor.pdf
E duas imagens do aspecto da exposição.
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